PONTE DOS DOIS ARCOS CORREDOR DAS TROPAS
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A Ponte dos Dois Arcos é uma construção que simboliza a história de luta pela existência da comunidade do Passo dos Negros. Produzida por mãos negras em meados do séc. XIX, a ponte está localizada no Corredor das Tropas, via de acesso para as antigas charqueadas da região. Como toda encruzilhada tem seu guardião, aqui não é diferente. Seu Pedro, nosso interlocutor, trabalhou em granja e até hoje se utiliza dos cavalos para seu trabalho de reciclador e por ter sido funcionário do antigo engenho Osório localizado no Passo dos Negros, mora pelas voltas da região e por isso nos transmite histórias diversas sobre o lugar, inclusive da Ponte dos Dois Arcos. Aproveitar a sombra da Figueira que está em cima da Ponte dos Dois Arcos nos dias de sol, nos propicia um diálogo direto com a ancestralidade, e por esse motivo há uma movimentação de pessoas negras no território para referenciar o espaço. Estudiosos no assunto também não faltam, uns até pesquisam um peixe raro que dizem existir por ali, mas o Seu Pedro é a pessoa que pode nos cont(ar) mais detalhes sobre o local, pois afinal o Passo dos Negros é a sua casa. Assim como existem muros que nos separam, há pontes que nos unem e seu Pedro alertou a comunidade pelotense para isso.
MAPA
VÍDEO
Conversar com Seu Pedro é sempre bom, ainda mais sobre a ponte aos pés da pequena Figueira. Sempre com o rosto esperançoso, as linhas marcam o tempo das suas histórias de vida ligadas ao espaço. Nas narrativas, conseguimos sentir o passado no presente, e crer que há um futuro possíveis para o Passo dos Negros. A Ponte dos Dois Arcos mostra ser este elo, que costura a ancestralidade negra com a história de Pelotas, e que Seu Pedro está ali para comunic(ar). A ponte é um território que contém a imanência atemporal do atlântico negro ao nos d(ar) energias para lut(ar) pela valorização da história de todos trabalhadores e trabalhadoras da cidade de Pelotas.
Como um símbolo da história negra, a Ponte dos Arcos, como a maior parte dos prédios da cidade de Pelotas, foi construída por pessoas negras. Seu formato hoje é ilustrado para estampar camisetas e sobretudo demarc(ar) a identidade que apresenta-se na materialidade fundada no imaterial, ao se expressar através da própria oralidade, um dos pilares das comunidades negras. Para Seu Pedro, a camiseta é especial, pois como um guardião comunicador, devemos valorizar o que ele tem para contar e assim conheceremos um pouco mais sobre o Passo dos Negros. Por que guardião? A palavra está conectada a Exu e nesta cosmologia todos são aceitos, o importante é definir de onde parte os princípios desses ensinamentos e eles surgem do atlântico negro.
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CAMISETAS
CARTAZ
Não só os corpos das pessoas negras foram arrancados da África, mas todo o conhecimento e tecnologias que hoje pairam sobre os nossos olhos e que, às vezes, não percebemos. Não é só na feitura dos tijolos nas olarias e na disposição desses artefatos para a construção da Ponte dos Dois Arcos que os povos negros marcam sua presença. Inventar e aplicar nossas tecnologias produzidas na África para construir não só Pelotas mas as Américas como um todo foi o que fizemos desde que colocamos nossos pés nessas terras. Por isso esse formato simples aplicado no cartaz não sinaliza a escravidão mas a ponte para descobertas das nossas tecnologias ancestrais, para que consigamos nos reconhecer enquanto povos férteis que trouxeram da África toda inventividade. Nossa criatividade que em transformação constroi a cidade e apresenta na sonoridade das batidas de um tambor, que nomeamos nestas terras de Sopapo, toda a alegria dos povos negros.
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Escute a música inspiração do cartaz:
POSTAL
Por muito tempo, a Ponte dos Dois Arcos, as narrativas das comunidades do Passo dos Negros entre outros tantos elementos afrodispóricos que constroem a esfera patrimonial da cidade de Pelotas, foram asfixiados por relações de poder. Interações que subestimam a potencialidade e a assertividade dos povos racializados, por buscarem padrões brancos da existência. Sabemos que a maior parte das populações de Pelotas descende dos africanos sequestrados na África e escravizados nas charqueadas. Foi através da exploração do conhecimento negro que a cidade foi construída. A cultura que hoje entendemos como pelotense é composta por sua diversidade étnica que nutre suas raizes no atlântico negro. A Ponte dos Dois Arcos é a materialização deste marco atemporal, pois além de ter sido construída em 1854 por pessoas negras, ela é ancestral, um símbolo de toda a resiliência, um elo entre a ancestralidade negra com a história de Pelotas. A história do local que Seu Pedro, morador do Passo, conta, precisa ser expandida por nós como galhos das figueiras que nos abraçam com suas sombras e nos embalam para futuros possíveis. Que a potência da ancestralidade do espaço e sobretudo a imanência das pessoas que habitam o território onde a Ponte dos Dois Arcos persiste, (re)existam.
Fotografia: Igor Correa
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FOTOcartoGRAFIAS
Aqui na Ponte dos Dois Arcos nós negros nos sentimos em casa. Foi no dia das mães que achei a ponte. Acredito que Oxum tenha guiado meus passos ao apontar a matripotência do local. Os melhores registros são dos dias em que tive a oportunidade de ter encontros sobre a ponte. Um local onde as pessoas narram sua relação com o Passo dos Negros e através das suas experiências apresentam um passado que no presente deve ser considerado patrimônio pelotense, por toda sua história e, sobretudo, por toda a cultural que está em constante expansão através das narrativas dos que habitam a região.